Por uma vida académica sem desperdício de conhecimento
Dizem que todos os professores têm um momento UAU que os fez decidir ensinar. Os estudantes também os têm, normalmente quando descobrem uma nova paixão sobre determinado tema da matéria dada. Na Catawba College, na Carolina do Norte, desde 2016 que parte do trabalho dos alunos da cadeira de Taxonomia Vegetal envolve melhorar as entradas da Wikipédia sobre espécies de plantas nativas daquele estado. Um dia, ao procurar mais informações sobre uma determinada espécie, um dos alunos recorreu a uma aplicação especializada em identificação de plantas chamada iNaturalist. De repente, apercebeu-se que conhecia aquela descrição de algum lado: era a que tinha escrito para o artigo da Wikipédia. Chegou o seu momento UAU: afinal, era ele o perito. Esta ideia de que todos podemos produzir conhecimento, que será depois reutilizado por sítios reconhecidos como especialistas, espalhou-se pela sala de aula, fazendo com que cada estudante trabalhasse na sua entrada ainda mais afincadamente.
Poucas atividades terão um alcance tão visível quanto escrever na Wikipédia: é de lá que nos chega o primeiro resultado do Google e a caixinha informativa que acompanha a maior parte das pesquisas, é de lá que são extraídas descrições e informações que populam milhares de aplicações especializadas (como a iNaturalist que, a propósito, é financiada pela Academia de Ciências da Califórnia e National Geographic). A Wikipédia é, hoje, a melhor porta de entrada para conhecer um pouco mais sobre (quase) qualquer assunto. Mas sabemos bem que os 1,1 milhões de artigos da Wikipédia em português ficam muito aquém daquilo que é "a soma de todo o conhecimento humano", até porque já todos esbarrámos com a frustração de querermos saber algo sobre um determinado tópico e não encontrarmos nada por lá.
Nos últimos dois anos, foram criados cerca de 80 mil artigos na Wikipédia em português. Durante o mesmo período, milhares de alunos da NOVA FCSH produziram uma quantidade infindável de trabalhos e textos cujo conteúdo ficará eternamente contido na curta relação entre docente e aluno. Já os investigadores continuaram as suas pesquisas, espartilhando longas e minuciosas metodologias em meia dúzia de parágrafos. Mesmo quando a resposta à questão de pesquisa é uma nova dúvida, o que se aprende no processo de qualquer investigação extravasa as vinte páginas de qualquer artigo científico. Por que deixamos que este conhecimento se perca assim?