Honestos • Inacabados #8
Olá amigos,
Faz tempo que os honestos e inacabados não tem uma nova edição. Quase 9 meses. Muito porque passei grande parte desse tempo começando a escrever e desistindo no meio. Não me sentia apto a divagar aleatoriedades tecnológicas no caos que o mundo vem vivendo. O que essa newsletter agregaria? O que eu teria a dizer de relevante ao meio de tantos outros assuntos mais importantes?
O que me colocou em um hiato criativo. Nunca consumi tanto conteúdo como esses tempos. série, livros, vídeos, cursos. Mas tudo parece um blur. Sem muita direção.
Está difícil, mas cá estamos voltando aos poucos.
Descobertas
Venho questionando bastante o papel do digital na construção de uma sociedade mais justa. E como um bom latino americano, é impossível não perceber o colonialismo digital que é praticado pelas Big Techs e pela estrutura de capital de investimentos em startups.
Foi em 2014 quando estive em São Francisco pelo Bliive competindo no Intel Challenge. Depois de uma rodada de apresentações, um dos advisors da competição, que acabei ficando mais próximo, me chamou de canto e me falou: posso ser honesto com você? Com esses números e tech vocês conseguem um investimento amanhã aqui nos Estados Unidos. Mas vocês são uma startup brasileira e nenhum investidor vai querer tirar seu próprio capital e pôr em um país com maior risco e moeda mais fraca. E a verdade é péssima, mas nascer na América do sul já te coloca em desvantagem no cenário de startups, você pode reclamar ou apenas aceitar que é preciso trabalhar o triplo que qualquer ideia ruim em solo americano.
Hoje eu consigo entender muito mais a dimensão daquelas palavras. Não existe vontade nenhuma das empresas de tecnologia de primeiro mundo em mudar essa situação. Somos apenas mão de obra e material. Achar que navios portugueses são coisa do passado é engano, vivemos a mesma metáfora: O navio do Google chega em nossas terras nos presenteia com espelhos, no caso serviços gratuitos, e a nossa matéria prima, dados são extraídos e usados para melhorar a tecnologia deles.
Tecnologia essa que não vai ser nunca aberta ou transferida. Não é à toa o lobby da Microsoft contra o open source. Hoje países subdesenvolvidos como Brasil, Taiwan, India possuem galpões de pessoas fazendo classificação de conteúdo e treinando machine learningpara tornar a tecnologia do primeiro mundo cada vez mais robusta. Enquanto um programador do vale do silício ganha 250 mil dólares por ano, os países subdesenvolvidos são explorados em minas e galpões de taggeamento de conteúdo.
Não tenho respostas, mas fica latente na minha cabeça que educar as pessoas no pensamento computacional é uma forma de protesto e de não alienação. Aceitar a comodidade da nuvem e do compartilhamento dos dados é dar continuidade à opressão colonial. Esses dois textos foram excelentes em fundamentar e me inquietar a perguntar: Como o digital pode ajudar a criar uma sociedade menos desigual?
Instead of sharing knowledge, transferring technology, and providing the building blocks for shared global prosperity on equal terms, the rich countries and their corporations aim to protect their advantage and shake down the South for cheap labor and rent extraction.
In designing our protocols and our algorithms, it is crucial to remember that the point of this process of social transformation is not only to make work better, but also to work less. […] With greater free time and available space, all individuals will be able to develop their personalities outside of a work-centric identity.
O que passou na minha cabeça
Além de todo esse redemoinho e do pensamento em como o digital pode tornar a sociedade mais justa. Eu tenho uma crítica enorme a como nos desviamos do conceito inicial do computador de ser uma bicicleta para a mente. Ou na grande missão de vida do criador do mouse Augmenting Human Intellect. Fomos disso para ideias que são ou caça níquel de atenção ou onde o foco é produzir mais, dar check na lista de tarefas.
O que eu quero dizer com isso? Todo dia sai um “App para lembrar você de falar com seus pais”, “App para ajudar na sua dieta”, “App para te lembrar das coisas importantes” e todas as soluções são baseadas em notificações, calendário. Sendo que o problema não é você esquecer de falar com seus pais e sim a falta de conexão com eles. A mesma coisa para uma dieta, o digital não deve te proibir de comer algo e sim aumentar e treinar a sua força de vontade como ser humano para falar não a certos alimentos e se re-educar. Uma das minhas peças de design favoritas é uma máquina que coloca uma bola de chocolate todo dia na sua frente e você escolhe comer ou devolver para a máquina. Muitos desses caminhos são polêmicos dentro dos produtos porque tornar você um ser humano capaz de fazer essa atividade sem o app, ou reduzir o seu uso, é com certeza diminuir a possível receita do serviço.
O que me leva a um segundo pensamento que venho considerando na minha cabeça, que é uma forma mais slow de produzir e vender software. Que permita não comprometer as funcionalidades do app por causa de metas financeiras. Ainda é um pensamento cru, mas depois do sucesso do PliimPRO e da quantidade de usuários que mandam e-mail sugerindo features ou reportando bugs com carinho e respeito, penso que possa existir um caminho da produção de softwares como existe a do produtor local de alimentos. Um contato direto com as pessoas que usam, menor escala e sem uma corrida desenfreada por mais usuários.
Algumas ideias que tive
Dicionário + Note:
Esses dias eu estava lendo Duna e fazia tempo que não lia um livro em inglês não técnico, o que me fez precisar ir no dicionário várias vezes para conseguir entender toda a poesia dos trechos. E pensei que o app perfeito de dicionário para mim deveria dar suporte offline, exportar a lista de palavras que você pesquisou e evitar o máximo de distrações.
Acho que tem algo interessante aqui de você escrever a palavra automaticamente ver o significado :). Se alguém quiser me ajudar a implementar dá um alô. Na dúvida se uso SwiftUI ou react native.
Jiripocas
Me tira o sono, junto com o gol que o Renato Augusto perdeu na copa de 2016 contra a Bélgica, ter minhas informações espalhadas em milhões de servidores proprietários e não conseguir por exemplo acessar: tudo que eu dei like (twitter, instagram, save) ou pesquisar tudo que eu já anotei sobre algo (bookmarks, screenshots, notas), ou até conseguir pesquisar pessoas. Eu ainda quero tentar resolver esse problema. E como uma Proof of Concept para eu explorar as possibilidades, acabou saindo uma busca para quem você segue no twitter. Já consegui ter uma noção de como funciona para implementar uma busca e authentication por serviço. Quem sabe em breve eu mergulhe nessa jornada. Vamos ver…
No fim do ano passado eu também escrevi um texto sobre meu processo de design. Foi um exercício bem bom conseguir juntar todas as referências e formalizar as etapas que naturalmente eu faço.
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Um abraço.
E como sempre obrigado Carolina pelos insights e ajustes no texto.