✍️🖥️ NDB #2 - Python, Guerras Digitais, Meta & Mozilla juntas e shallow now, EdgeDB e Tecnologia no Futebol
Olá! Boas vindas as Notas do Bidu! Na edição de hoje - Python (finalmente!) perderá módulos velhos, a guerra digital entre Ucrânia e Rússia é antiga - e já pode ter atingido você, Meta e Mozilla juntas para lidar com anúncios, lançamento do EdgeDB - que promete ser um novo banco de dados revolucionário, Futebol, tecnologia e o mundial.
Python & Código Velho
Python é uma linguagem que se divulga como sendo "batteries included" (pilhas inclusas, em Inglês). Sabe a frustração de quando você compra algum eletrônico super legal, chega em casa e descobre que ele precisa de um tipo de pilha que você não tem por perto? Python tenta evitar isso, você instala um interpretador da linguagem e pronto, direto na biblioteca-padrão você vai ter muita coisa, sem precisar instalar nada
Em 2019, Amber Brown (foto da Python Software Foundation) fez uma apresentação maravilhosa no Language Summit chamada Batteries Included, But They're Leaking (Pilhas inclusas, mas elas estão vazando). O ponto dela foi - a biblioteca-padrão possui módulos velhos, que não são mantidos. Além de tudo, é mais difícil contribuir com código enfiado no projeto CPython do que com código em pacotes independentes.
Desde então, Christian Heimes do time do CPython escreveu um PEP propondo remoção de alguns pacotes. Algum movimento foi feito e agora esse PEP foi ressuscitado por Brett Cannon.
Remover partes de uma linguagem é difícil - pessoas podem depender daquele código em projetos antigos. Manter partes velhas de uma linguagem é difícil - código precisa de manutenção constante, bugs são descobertos, falhas de segurança são encontradas. Um projeto guiado por voluntários precisa ser cauteloso ao escolher o que fica e o que vai.
Dar uma lida no PEP e na discussão é um exemplo das dificuldades. Por exemplo, o autor sugeriu a remoção de um módulo que só serve para processar um formato de áudio inventado em 1988 e que pouquíssimos usuários finais precisam dele. Porém o autor descobriu que dentro da indústria de cinema, na etapa de pós-produção esse módulo é importante e, portanto, pode ser estrategicamente interessante mantê-lo.
Rússia, Ucrânia e Guerra Digital
Um grupo que se denomina Os Ciberpartidários da Bielorrússia - @cpartisans alegam ter atacado e desligado parte da rede ferroviária da Bielorrússia, no final de janeiro, utilizando de um ransomware.
We have encryption keys, and we are ready to return Belarusian Railroad's systems to normal mode. Our conditions:
🔺 Release of the 50 political prisoners who are most in need of medical assistance.
🔺Preventing the presence of Russian troops on the territory of #Belarus. https://t.co/QBf0vtcNbK— Belarusian Cyber-Partisans (@cpartisans) January 24, 2022
Esse ataque é um capítulo novo numa tendência que se monta a alguns anos - o uso de ataques digitais em questões estratégicas. Os @cpartisans se intitulam um time independente, porém além deles nós já temos diversos países montando divisões estratégicas de defesa digital. Os EUA possuem o USCYBERCOM - Comando Cibernético dos Estados Unidos, o Brasil possui o Comando de Defesa Cibernética, Rússia e China possuem um histórico de operações do tipo.
Quanto mais a Computação assume um papel maior da vida de nós todos, mais a Segurança da Computação vira parte importante de nossas seguranças pessoais, corporativas, governamentais e estatais.
O histórico de operações de guerra digital entre Rússia e Ucrânia é longo. Guerras Digitais podem se espalhar muito rápido. O malware NotPetya, por exemplo, surgiu num ataque à Ucrânia em 2017 e fez vítimas no mundo todo, causando grandes danos. Ironicamente, esse malware se utiliza de uma falha que foi descoberta pela NSA, dos EUA. A própria NSA foi hackeada, algumas de suas ferramentas foram vazadas e usadas para construir malwares como esse. ref
Mais em: The Guardian | Vice | Wired | Tech Review
Mozilla e Meta Trabalhando Juntas
Na edição passada dessa newsletter, discuti como mudanças no iOS podem ter contribuído para a queda recorde de ações da Meta. Nessa semana, a Mozilla - empresa do Firefox - divulgou que está trabalhando com a empresa do Facebook para montar um sistema de atribuição de links. Foi exatamente limitações nessa técnica implentadas no iOS que causaram problemas para a Meta.
Atribuição de anúncios é um assunto delicado pois pode violar a privacidade do usuário. Para uma atribuição bem feita, nós precisamos saber o que o usuário fez depois de clicar em um anúncio. Porém isso pode facilmente ser abusado.
A reação de muitos fãs da Mozilla não foi boa. Misturar atribuição e privacidade é difícil. A Mozilla foi bastante inteligente nessa questão - o post foi colocado no blog silenciosamente, sem divulgação nas redes sociais. Vale lembrar que o Google tem experimentado com possibilidades de mudar atribuição, abandonando cookies de navegador. No passado, eles estavam etudando um conceito chamado FLoC, que foi descontinuado em Janeiro. Agora, apostam num sistema de "Tópicos".
Seja como for - é claro que a Meta está correndo contra o tempo para evitar que o Google, através do Chrome, crie problemas de atribuição similar aos que a Apple criou. A parceria com a Mozilla pode até ser interessante para a Meta, porém vale lembrar - a Mozilla é uma empresa praticamente dependente do dinheiro do Google. Existe uma reflexão maior a ser feita sobre a sustentabilidade financeira de projetos Open Source no mundo atual, mas isso é assunto pra outra hora 😉
Mais em: XDA Developers | Blog da Mozilla | Canal Tech | Protocol
Tec da Semana
Essa semana aconteceu o lançamento da primeira versão do EdgeDB. Eu tenho acompanhado de longe esse projeto faz um tempo, ele promete ser uma revolução no mundo de bancos de dados. Construído em cima do PostgreSQL, ele promete misturar as melhorias do mundo NoSQL com o melhor que tem em bancos relacionais. A estrutura de dados é similar a de um grafo, como feito pelo Neo4j, os criatores o chamam de o primeiro banco de dados grafo-relacional do mundo. Além disso, ele possui uma linguagem não-SQL própria, migrações e pode até tornar ORMs obsoletos.
A última versão do EdgeDB que experimentei era uma prévia e ainda não mexi na nova. Porém eu gosto da ideia em geral:
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Eu sou fã-boy de grafos, reconheço isso. Mas eu 100% acho que a estruturação em grafos torna a vida muito melhor, considerando que a gente vive em um mundo onde as entidades geradoras de dados são em si conectadas. Suportar essa conexão no nível do banco, sem precisar lançar mão de relações SQL complexas é bem interessante
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A mistura de ideias do mundo relacional com do mundo não-relacional é o futuro. Pelo menos na minha opinião. Inicialmente, os bancos "NOSQL" se propunham como uma ruptura do modelo relacional - a grafia comum era NoSQL, de "não SQL". Hoje, a gente já escreve NOSQL de "Not Only (não apenas) SQL". Desde o advento de coisas como o MongoDB, bancos SQL importaram algumas ideias do mundo "não relacional" e bancos não relacionais fizeram o mesmo, importando até mesmo camadas de compatibilidade para que pessoas possam escrever comandos SQL em bancos não-SQL. O EdgeDB me parece uma extensão dessa filosofia.
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Apesar de se propor como uma ruptura, é baseado no bom e velho PostgreSQL. Esse ponto se comunica com o ponto superior. O PostgreSQL não é o líder absoluto em bancos SQL open-source à toa. Ele é extremamente bom, robusto, bem feito e pode ser confiado. Criar uma camada de inovação em cima dessa base sólida me parece uma ótima ideia.
Mais em: EdgeDB.com | YouTube - EdgeDB Day — Launching 1.0 | Blog EdgeDB
Fora da Comp
Meu amigo, o corinthiano apaixonado por futebol Luiz Gabriel Salgado, fez uma ótima reflexão sobre o time do Palmeiras: o Abel Ferreira é um dos técnicos mais modernos que já vimos no Brasil e precisamos aprender com ele. Não sou palmeirense e nem corinthiano, porém já vi diversos relatos vindos da CBF e afins sobre a resistência ao uso de tecnologia no futebol brasileiro. Me lembro desde a época da extinta revista Info, a resistência da CBF em adotar tecnologias para ajudar o árbitro, alegando que "discussões sobre o árbitro no pós-jogo fazem parte do esporte". Também temos a resistência ao uso de tecnologias assistivas aos treinadores, alegando que não precisamos disso no Brasil, pois nosso futebol é "arte". Pode até ser arte, mas seja lá quem tem segurado os pincéis, deve estar numa espécie de bloqueio criativo